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21/11/2016
GAME DAY

João Freitas discute as questões grandes do grupo e projecta a ambição para o resto da época

Directo, pragmático e sem medo de por o dedo na ferida. Em entrevista ao Site oficial do CAB, o treinador João Freitas aborda as questões em torno da equipa, a saída da base estrangeira, a lógica de trabalho do grupo, as lesões grandes que têm afectado algumas das jogadoras, a chegada de uma nova jogadora, o estado actual da Liga Feminina e a visão competitiva para o resto da época do CAB.

Colocando grande ênfase no sentido colectivo do grupo e na obrigatoriedade de cada uma das jogadoras assumir grandes responsabilidades, independentemente de ser estrangeira ou não, João Freitas assume a candidatura das Amigas aos títulos que faltam conquistar e exige das suas jogadoras grande sentido de compromisso com o grupo. Aqui deixamos registadas as suas palavras:

A época começou com a conquista da Taça Victor Hugo, mas, desde aí, a equipa tem vindo a demonstrar menos regularidade no capítulo das vitórias. É uma situação que previa?

Ninguém prevê derrotas, a não ser que jogues contra equipas que são muito superiores à tua. A equipa conquistou a Taça Vítor Hugo, com todo o mérito, mas reconhecendo que nos apresentamos um passo à frente do que a maioria das outras equipas. Já sabíamos, aquando da construção da equipa, que esta apresentava alguns desequilíbrios. Há jogadoras a treinar numa posição e a jogar noutra. Isto cria alguma perturbação nas mesmas, com consequências no seu desempenho em jogo.

Não quero chegar ainda ao ponto de afirmar que o que conta é ganhar ou perder. Mas também sei que és avaliado - e o teu trabalho é avaliado - pelas tuas vitórias. Do processo que te leva a chegar às vitórias, ninguém quer saber. E estamos agora muito empenhados num processo de mudança, que tarda, mas vai aparecer. Hoje, queremos tudo rápido. Mas tudo mesmo. Perdemos a capacidade de ter paciência e de saber esperar. E grandes mudanças são demoradas. Mudanças rápidas não saram feridas profundas.

A base estrangeira contratada acusou grandes dificuldades de adaptação, que determinara a saída da atleta, por escolha própria. Que dificuldades acrescidas isso trouxe à equipa?

A Marquelle, desde o primeiro dia, acusou muita da responsabilidade do que era uma líder dentro de campo. Nunca lhe dissemos que tinha que lançar muito, marcar muitos pontos ou fazer muitas assistências. Da parte dela, como de todas as outras, procurámos trabalho e compromisso. Quer numa, quer noutra situação, ela não esteve muito presente. A partir de um determinado momento, desligou e o pensamento dela só estava em ir embora. Com a ausência dela, tivemos que adaptar a Filipa, que jogava na posição 2, a jogar na posição 1, e acabamos com mais uma jogadora que estava a treinar numa posição, a jogar noutra.

As outras jogadoras não-portuguesas, que actuam na zona interior, têm correspondido às expectativas?

Desde que começei a treinar esta equipa, queria e quero um envolvimento diferente. Não que o anterior não fosse válido, pois deu muitos frutos. Não queria, nem quero, depender de nenhuma jogadora. O passado e a história deste e de muitos clubes em Portugal passa por ir buscar duas ou três jogadoras que marquem muitos pontos, que joguem muitos minutos e que resolvam, por si só, as vitórias das suas equipas. Nós não queremos isto. Queremos que cada jogadora tenha um papel importante e decisivo na equipa - e não só pelas palavras, mas pelos atos.

Muitas destas jogadoras vinham com um rótulo quase colado na testa, do que eram e não eram, do que sabiam ou não sabiam fazer. Mais do que as suas capacidades, a evidência eram as suas incapacidades. Tivemos que fazer sentir às jogadoras a sua importância e que o basquetebol nesta equipa tinha que ser mais que um ‘part-time’ e que conseguissem fazer o que cada uma faz melhor.

Agora, se queres avaliar as capacidades de um peixe e o pões a subir a uma árvore, chegas à conclusão que é um incompetente, como disse Einstein. Das estrangeiras e de todas as outras, queremos sempre mais. Se, por alguma razão, falham, têm que ser as outras a assumir maiores responsabilidades - e, para isso, têm que estar preparadas e mentalizadas. As estrangeiras, são apenas e só, mais três jogadoras da nossa equipa. Cada uma com a sua responsabilidade.

A época sem começou sem o contributo da Joana Lopes, que está a recuperar de uma lesão. Agora, o grupo de trabalho vê-se sem o contributo da Marta, que se lesionou na partida contra o Benfica. As lesões poderão tornar-se num factor limitativo demasiado pesado?

As lesões são sempre uma parte do processo. A Joana, sabíamos, à partida, que seria um processo demorado e complicado. Estamos também a meio do processo da sua recuperação. Ela, mais que ninguém, sabe pelo que passa e passou. Ela, mais que ninguém, tem que saber e estar preparada para sofrer. A ver vamos se tem essa capacidade e até onde nos pode ajudar.

Há muitas que treinam com limitações. Agora, a Marta está fora três semanas. A dor, a lesão, as recuperações fazem parte do dia-a-dia das equipas. Não são coisas que me tirem o sono. Onde há uma lesão, há uma oportunidade. Temos que ver isto assim e seguir em frente.

Até este momento, qual tem sido o maior desafio do grupo de trabalho?

O maior desafio tem sido mudar mentalidades. Tem sido, como referi em cima, cada jogadora olhar para si e para o basquetebol de outra forma. E eu também. Não é que as jogadoras muitas vezes não pensem bem, mas, entre pensar e saber executar, vai uma distância enorme - e queremos chegar à fase de fazer bem sem ter que pensar. Penso que, agora mesmo, estamos a entrar na fase de pensar e executar.

Depois de muitos anos a treinar o sector masculino, lidera agora a equipa feminina. O que é que mais o tem surpreendido, pela positiva e pela negativa, na Liga Feminina?

Nunca pensei, nem disse, que ia ser fácil. O equilíbrio este ano é mais notório. Ninguém pode relaxar muito e pensar que há jogos ganhos antes de serem jogados.

A grande diferenca é a capacidade física entre masculinos e femininos. É muito mais fácil desenhar alguma coisa no quadro e chegar a dentro de campo e executar no masculino que no feminino. É um jogo muito mais físico. Nos femininos, as tomadas de decisão levam mais tempo. Entre o pensar e executar, a diferença é grande. A parte positiva é que as mulheres, quando se juntam, formam grupos muito fortes. Não estou falando fora de campo, mas na execução das tarefas. E, depois, têm uma capacidade de encaixe brutal. Sempre prontas para no dia seguinte provarem que o treinador está errado. E algumas estão tão empenhadas que até me surpreendem.

A Liga Feminina tem que caminhar para equipas cada vez mais profissionais na sua forma de trabalhar. Muitas vezes, o resultado é definido pela qualidade das suas estrangeiras e não pela qualidade do trabalho desenvolvido. Assim, vamos desenvolver muito pouco. Toda a responsabilidade é dada às jogadoras estrangeiras. No entanto há equipas muito equilibradas e não vai ser fácil para ninguém ganhar troféus.

Até o final do ano, o CAB terá pela frente adversários como o Lousada, o Boa Viagem, o Lombos, o Sportiva e o Académico. Que CAB iremos encontrar nestas importantes partidas?

Vamos contar já esta semana com a inclusão da nova base. Além disso, queremos que a Joana comece, progressivamente, a dar contributos mais válidos. Em processos antagónicos, como incorporar jogadoras novas e ganhar jogos, vamos ter um CAB que precisa recuperar depressa na classificação e tudo vai fazer para que isso seja uma realidade.

Os objectivos definidos para o grupo no início do ano mantêm-se?

Os objetivos de ganhar tudo mantêm-se intatos. Ainda mais nas adversidades. Tudo o que foi dito acima, só tem sentido se nos fizer crescer como equipa e ganhar, que é o que todos ambicionamos. Nada do que foi dito é desculpa para nada.

Não estivemos bem nos jogos que perdemos. Mas também sabemos onde e como temos que melhorar. É um compromisso de todos. O trabalho que fazemos tem e vai ter resultados. Em cada uma das atletas e em cada um dos treinadores.       

GAME DAY

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