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28/11/2014
GAME DAY

Treinador João Paulo Silva em grande entrevista

João Paulo Silva (‘Juca’) é uma nome que é sinónimo de ‘CAB’. O actual treinador da equipa masculina é uma figura do presente, mas também da história do Amigos do Basquete, clube onde iniciou a sua prática desportiva e onde se destacou como atleta e como treinador. Se o currículo fala por si, incluindo dezenas de títulos nacionais conquistados, o desafio de servir o clube e de atingir novas metas é constante, factor que, aliás, motiva 'Juca' a dedicar-se, dia após dia, a uma modalidade e a um clube do qual é um dos símbolos.

Na semana em que o clube celebra o seu 35º aniversário, o Site Oficial do CAB realizou uma grande entrevista ao treinador da equipa masculina. Aqui deixamos o registo da nossa conversa:  

Após um começo menos conseguido, as vitórias sobre o Galitos e o Illiabum trouxeram novo alento à equipa?

As vitórias são um “alimento” determinante no equilíbrio emocional das equipas, e como tal, a nossa equipa começa a ver razões que justificam a intensidade do trabalho que temos realizado. Os resultados servem como referência avaliativa, determinam muitas vezes a maior ou menor evolução do programa utilizado na equipa. Vamos sempre estar atentos ao desenvolvimento do nosso comportamento, e sobretudo, que se consiga retirar de cada vitória a motivação suficiente para encarar o jogo seguinte numa perspetiva mais otimista.

Como é que o grupo está a lidar com os altos e baixos, que são naturais na competição?

Todo o grupo de trabalho sabe que iniciamos um processo de construção gradual da equipa. Esta construção estende-se a vários âmbitos: em primeiro lugar à necessidade de assimilação de novas formas de trabalho com uma equipa técnica diferente; a substituição de alguns jogadores que não conseguiram adaptar-se à nossa filosofia; entrada de muitos jogadores novos e natural criação de uma boa coesão coletiva e ainda, a implementação de um novo programa de trabalho. Estes aspetos, juntamente com outros que vão surgindo no decurso da nossa preparação, são responsáveis por essa oscilação comportamental.

O fundamental é sabermos lidar com essa variação e ir eliminando os períodos menos bons. Como atrás referi, as vitórias ajudam muito a superar esses momentos menos bons e faz com que os jogadores participem com determinação para ultrapassar situações de insucesso competitivo. Aparentemente estamos a conseguir lidar com esse facto.   

Quais são os adjetivos que melhor definem esta equipa do CAB?

A primeira ideia que deve ligar todos os elementos da equipa é percebermos, claramente, que não existe espaço para nos lamentarmos. A valorização do nosso coletivo passa sobretudo pelo reforço constante das qualidades que podemos produzir. Não desejamos ser iguais a ninguém, queremos construir o nosso caminho competitivo assente em valores que devem identificar a nossa equipa: DETERMINAÇÂO; ORGULHO e ALEGRIA. No entanto, estamos focados naquela que é a ideia central da equipa: O resultado do nosso trabalho deve refletir sempre um valor substancialmente superior à simples soma de cada individualidade.

Que impacto têm tido, ou poderão ter, as integrações do Tommie Eddie e do Nuno Pedroso na equipa?

Desde logo vão poder colaborar no processo de construção da equipa através da sua experiência, do seu conhecimento do jogo. Permitem facilitar a participação de jogadores mais novos e aliviar alguma tensão em momentos decisivos. Paralelamente, conseguimos reforçar a nossa capacidade ao nível do jogo interior com a entrada do Tommie e, em função desse facto, conseguimos libertamos mais os lançadores exteriores.

Começamos a perceber a forte ligação entre o Jorge Coelho e o Tommie que, certamente nos vão garantir muita qualidade. O Tommie é um jogador de equipa que se enquadra perfeitamente na nossa dinâmica competitiva. O Nuno é também um jogador muito experiente e já conseguiu demonstrar isso mesmo no primeiro jogo. Garante serenidade nos momentos decisivos. Além de ser um jogador de equipa, tem uma excelente capacidade de lançamento exterior e consegue selecionar muito bem os momentos para o fazer. Garantidamente terão um papel crescente e decisivo na nossa equipa.

Todos os anos, fala-se muito da participação de atletas madeirenses na equipa senior masculina. Os madeirenses que integram o plantel desta época estão a corresponder às expectativas?

Este é um assunto incontornável, pela importância que representa para a equipa e, sobretudo para que o futuro do clube seja continuadamente assegurado de forma sustentada. Quando atrás falava em construção de equipa, referia-me também à inclusão de atletas com formação no CAB. Não podemos nem devemos ignorar um assunto tão importante. Não é mais aceitável, e acreditem que não está só relacionado com a necessidade de gerir menos recursos financeiros, insistirmos no discurso ignóbil de que não é rentável apoiarmos processos de formação desportiva, de que é mais prático e confortável contratarmos jogadores já formados.

Enquanto treinador procurarei colaborar com a formação de atletas, porque eles garantem o retorno de uma qualidade fundamental: ORGULHO. Embora pareça simples, a verdade é que a inclusão destes atletas requer uma grande dedicação a esta causa. Não devemos incluir só pelo facto de serem atletas do CAB mas, principalmente, porque demonstram ambição no seu comportamento diário. O fundamental é conseguirmos uma convergência, um equilíbrio entre a nossa qualidade formativa e as contratações efetuadas.

Desculpem a abordagem aparentemente fora do contexto da pergunta mas que em tudo está relacionada. A utilização cada vez maior destes atletas e o facto de ter sido um desses atletas que assumiu um lançamento decisivo na nossa vitória frente ao Illiabum, responde de forma muito concreta à questão.

Há algum atleta do plantel que, por alguma razão, te tenha surpreendido ou que, na tua ótica, mereça um destaque especial?  

Existe neste momento um conjunto de circunstâncias e de jogadores que têm, através do seu empenhamento, avivado esta sensação aprazível de ser treinador. O clima em que temos desenvolvido o nosso trabalho é bem prova da satisfação que impera no seio da equipa. No entanto, sem qualquer desconsideração por todos os que diariamente comigo têm trabalhado, permitir-me-ão destacar o trabalho do nosso capitão: o Jorge Coelho.

O Jorge, além de ser um atleta com umas capacidades técnicas extraordinárias, tem assumido de forma exemplar a condição de capitão, cooperando com a equipa técnica em tudo o que é solicitado, apoiando todos os restantes jogadores na sua integração e demonstrando uma experiência distinta ao nível da sua capacidade de liderança. É percetível o destaque que tem conquistado ao nível estatístico tornando-o num dos melhores jogadores da Liga.

Mas, o que o torna especial é a sua condição para assegurar o cumprimento de uma atitude séria no trabalho desenvolvido e, ao mesmo tempo, depositar uma alegria enorme nas suas tarefas. É contagiante essa satisfação. Pela minha parte continuo a acreditar numa liderança técnica que admite a participação racional dos atletas no processo competitivo.      

És o técnico principal de uma equipa que, ao longo dos últimos anos, tem passado por muito. Como tem sido lidar com a pressão de orientar um grupo sobre o qual recaem muitas atenções?

Um dos estímulos de ser treinador é precisamente a necessidade constante e exigente de lidarmos com situações de grande pressão. Somos permanentemente forçados a fazer escolhas e, tal como refere o psicoterapeuta e grande escritor Augusto Cury no seu romance “Armadilhas da mente”, As escolhas implicam consciência crítica, e consciência gera atitudes, atitudes formam hábitos, hábitos constroem mudanças de comportamento.

É precisamente onde incide mais o trabalho de um treinador: mudar comportamentos. Adequar as atitudes que se geram no decurso do trabalho aos comportamentos que pretendemos construir para que a equipa possa produzir um determinado resultado. Naturalmente que estou preparado para que isso seja executado sempre na presença das exigências inerentes a essa eventual pressão.

Manter a concentração focada nos objetivos que formam o nosso compromisso é uma das melhores formas de minimizar a provável influência negativa que essa pressão possa gerar. Outra forma de lidar com essa pressão é orientar o grupo de trabalho através do envolvimento de cada um nas tarefas solicitadas, responsabilizando-os pelo resultado do seu empenhamento nas mesmas. Criar um compromisso coletivo.

És treinador há muitos anos e tens, por mérito próprio, um currículo notável de vitórias e conquistas... O que é que continua a te motivar a dares tanto de ti, dia após dia, à missão de treinador? 

 O primeiro motivo é decididamente continuar a sentir uma grande paixão por esta modalidade, e a par da minha profissão de professor, adoro interferir na formação de pessoas enquanto treinador. Paralelamente, muito mais significativo do que o currículo que construi, é sentir o reconhecimento de muitos atletas que trabalharam comigo. Alguns em circunstâncias de elevada exigência, de relação tensa, mas que mais tarde souberam autenticar a minha dedicação à sua evolução enquanto atletas e pessoas. Nada faria sentido se no final de um ciclo apenas restassem troféus. As amizades são significativamente superiores.

Em semana de aniversário, que 'prenda' gostarias de dar ao clube este ano?

Seria muito previsível se respondesse que gostaria de oferecer um título. Naturalmente que essa é uma grande vontade e ambição. No entanto, prefiro optar pela prudência racional de prometer muita dedicação e empenho a essa causa nobre de trabalhar, juntamente com os jogadores, para sempre dignificar o nome e a boa reputação deste grandioso CLUBE. Se assim for, acredito que os resultados surgirão como natural consequência dessa atitude.

E, porque estamos também em vésperas da quadra natalícia, que prenda gostavas de receber dos teus atletas?

 Sem querer ser repetitivo, vou arriscar responder a esta questão com uma nova frase de Augusto Cury: Um Eu maduro é um Eu desarmado, que não tem a necessidade neurótica de ser perfeito; portanto, tem maior capacidade de reconhecer erros, pedir desculpa, transformar dificuldades em crescimento.

Desejaria que os meus atletas tentassem sempre transformar as nossas fraquezas em forças que nos permitam alcançar resultados coletivos. Além das capacidades técnicas, se cada um contribuir com dedicação, determinação, superação, paixão pelo trabalho realizado então, certamente seremos muito mais fortes e iremos crescer com desenvolvimento. 

GAME DAY

Continuar...


 

 

 

 
 
 
 
 
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